Para ele, ataques são sinal de ‘uma tentativa de retorno ao status quo da impunidade dos poderosos'
SÃO PAULO — O juiz Sérgio Moro rebateu as críticas aos acordos de
delação premiada assinados na Operação Lava-Jato. Para Moro, as
tentativas de desqualificar delações assinadas por réus presos podem ser
“sinais de uma tentativa de retorno ao status quo da impunidade dos
poderosos”.
— Eu fico me indagando se não estamos vendo alguns sinais de uma
tentativa de retorno ao status quo da impunidade dos poderosos — afirmou
o juiz durante XII Simpósio Brasileiro de Direito Constitucional na
noite de quinta-feira em Curitiba.
É a primeira vez que o juiz, que conduz os processos em primeira
instância relativos ao esquema de corrupção da Petrobras, fala sobre a
delação depois que vieram à tona áudios de caciques do PMDB gravados
pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
Nas
gravações, o presidente do Senado, Renan Calheiros, defende mudanças na
lei da delação premiada: “Primeiro, não pode fazer delação premiada
preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação”, afirmou
Calheiros na conversa gravada.
Moro argumentou que é necessário ver os acordos de delação premiada
em todos os aspectos. Para o juiz, a possibilidade de negação de um
acordo porque o suspeito está preso pode limitar o direito a ampla
defesa:
— Eu fico pensando: isso é consistente com o direito da ampla defesa?
Não tem que ser analisado dessa perspectiva? — indagou o juiz.
Durante o evento, o juiz criticou ainda dois projetos de lei
propostos pelo deputado federal Wadih Damous (PT-RJ) que, para ele,
seriam um retrocesso ao combate à corrupção. Damous propõe a proibição
de colaboração premiada por pessoas que estejam presas e quer a
suspensão da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que prevê a
prisão de réus após a decisão no segundo grau de jurisdição. Sem citar o
nome do petista, mas apontando o partido, Moro chamou atenção para a
“coincidência” de os dois projetos serem do mesmo autor.
Moro voltou a alertar sobre os riscos às conquistas alcançadas pela
Lava-Jato até o momento. Ele comparou a operação a italiana Mãos Limpas.
— Em determinado ponto, a Mãos Limpas perdeu o apoio da opinião
pública. E a reação do poder político foi com leis, como as que proibiam
certos tipos de prisão cautelar ou que reduziam penas afirmou o juiz.
Para o juiz, uma parcela de culpa da corrupção sistêmica no país poder estar processo penal brasileiro.
— Talvez o excesso de leniência tenha nos levado a chegar no quadro
atual—, sugeriu o juiz, que desabafou: — Como chegamos a esse ponto? O
que deu errado?
No seminário, Moro participou de mesa de debate com o advogado
criminalista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), René
Dotti, com o professor de direito penal e coordenador de Direito da
Fundação Getúlio Vargas do Rio, Thiago Bottino, e com o também professor
da UFPR Alexandre Morais da Rosa.
Durante o evento, Dotti criticou a antecipação da execução da pena.
Bottino atacou os acordos de delação assinados com réus presos e afirmou
que a condução coercitiva e a prisão cautelar, para ele, são um erro
O globo
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