Armando Dagre, sócio da Talento Construtora, contou ao Ministério
Público de São Paulo que 'tomou um susto' quando vislumbrou Marisa
Letícia ingressando no apartamento acompanhada do filho Fábio e de Leo
Pinheiro, dono da OAS e condenado na Lava Jato a 16 anos de prisão
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva / Foto: Estadão
O engenheiro Armando Dagre, sócio-administrador da Talento
Construtora, declarou ao Ministério Público de São Paulo que
‘praticamente’ refez o triplex 164 A, no Condomínio Solaris, em Guarujá,
no litoral de São Paulo – imóvel que a Promotoria suspeita pertencer ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A reforma, contratada pela
empreiteira OAS, alvo da Operação Lava Jato, custou R$ 777 mil, segundo
Dagre. Os trabalhos foram realizados entre abril e setembro de 2014.
Em 2006, quando se reelegu presidente, Lula declarou à Justiça
eleitoral possuir uma participação em cooperatriva habitacional no valor
de R$ 47 mil. A cooperativa é a Bancoop que, com graves problemas de
caixa, repassou o empreendimento para a OAS. A Polícia Federal e a
Procuradoria da República suspeitam que a empreiteira pagou propinas a
agentes públicos em troca de contratos fraudados na Petrobrás.
As informações sobre o depoimento de Armando Dagre foram divulgadas no Jornal Nacional, da TV Globo.
A investigação sobre o apartamento que seria de Lula estão sendo
realizadas pelo promotor de Justiça Cássio Conserino, do Ministério
Público paulista. O promotor diz ter indícios de que houve tentativa de
esconder a identidade do verdadeiro dono do triplex, o que pode
caracterizar crime de lavagem de dinheiro.
Armando Dagre disse que o contrato com a OAS para reforma do triplex
incluiu novo acabamento, além de uma outra piscina, mudança da escada e
instalação de elevador privativo que custou R$ 62,5 mil. Ele disse que
não teve nenhum contato com Lula, mas com a ex-primeira dama, Marisa
Letícia.
Contou que, um dia, estava reunido com o representante da OAS no
apartamento ‘quando Marisa adentrou o apartamento com um rapaz e dois
senhores’ e que só depois soube que os acompanhantes da mulher de Lula
eram um filho do casal, Fábio Luiz, um engenheiro da OAS e o dono da
empreiteira, Léo Pinheiro – condenado na Lava Jato a 16 anos de prisão
por corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
“Em verdade tomou um susto quando vislumbrou a dona Marisa Letícia
ingressando no meio da reunião existente no interior do apartamento”,
disse Armando Dagre.
Ele disse que a ex-primeira dama ‘os cumprimentou’. “Ela estaria
conhecendo o apartamento, tendo, inclusive, ressaltado a vista (para o
mar).”
O advogado Aloísio Lacerda Medeiros, constituído pelo sócio da
Talento Construtora, confirmou que Armando Dagre estava no apartamento
quando Marisa, o filho Fábio e Léo Pinheiro chegaram. Segundo Medeiros,
‘nada foi dito’ sobre a quem pertenceria o imóvel.
A Promotoria também tomou o depoimento do zelador José Afonso
Pinheiro, zelador do condomínio desde 2013. Questionado se Lula esteve
no prédio, Pinheiro disse que viu o ex-presidente lá. Segundo ele, Lula
chegava normalmente em dois carros com seguranças que ‘prendiam’ o
elevador para a família, o que provocava reclamações de outros
moradores.
O zelador contou, ainda, que a OAS ‘limpava o prédio, colocava flores para receber a família do ex-presidente’.
Segundo ele, um funcionário da empreiteira lhe pediu que não falasse que o apartamento era de Lula e da mulher, ‘mas da OAS’.
Depois que as investigações sobre o apartamento foram tornadas
públicas a família de Lula não retornou ao prédio, segundo Pinheiro.
O advogado Cristiano Zanin Martins, que representa o ex-presidente,
negou taxativamente que o petista ou familiares dele sejam os donos do
triplex. Ele relatou que a família comprou uma cota de um projeto da
Bancoop. A cota foi paga e declarada ao Imposto de Renda pelo
ex-presidente. O advogado disse que ‘não tem a menor ideia’ de quem
realizou a reforma no imóvel.
Zanin reiterou que o apartamento ‘não é do ex-presidente’. Esclareceu
que Lula tinha uma cota do projeto da Bancoop e quando o empreendimento
foi transferido para outra empresa tinha duas opções: pedir o resgate
da cota ou utiliza-la para compra do imóvel do Solaris. A família fez a
opção pelo resgate.
A OAS não se manifestou.
Estadão
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